
Um mar de retrocesso contém gotas de esperança. No ambiente político atravessado por negação da História, desprezo pela democracia e desqualificação da agenda de inclusão de minorias, três dezenas de grandes companhias e instituições previamente comprometidas com a diversidade se reuniram anteontem, em São Paulo, para refletir sobre a inclusão de mulheres negras em vagas de alta qualificação e funções de comando. Convenceram-se de que projetos para ampliar a participação feminina no quadro de colaboradores resultaram, sobretudo, na ascensão de mulheres brancas. Levantamento do Instituo Ethos já mostrou que, nas 500 maiores empresas, pretas e pardas ocupam 8,2% dos cargos de supervisão e 1,6% de gerência; é residual a presença em diretoria, presidência e vice, conselhos de administração.
Isso acontece porque programas de recrutamento raramente são formatados sob a perspectiva da interseccionalidade, conceito que explica a sobreposição das variáveis de gênero, raça e classe na opressão (ou nas oportunidades) a determinados indivíduos ou grupos demográficos.
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O país tem 59 milhões de mulheres autodeclaradas pretas ou pardas, 28,4% do total de habitantes; homens brancos, hegemônicos nos espaços de poder político e econômico, somam pouco mais de 42 milhões (20,4%). Elas movimentam cerca de R$ 704 bilhões por ano, segundo estudo do Instituto Locomotiva; chefiam famílias; tomam decisões coletivas de consumo; produzem inovação e conhecimento; organizam-se em redes de solidariedades em bairros, grupos religiosos e na sociedade civil. Acumulam saberes, mas seguem invisibilizadas no mercado de trabalho ou condenadas a vagas informais, precárias e mal remuneradas.
Clique aqui para ler a coluna de Flávia Oliveira, do jornal O Globo, sobre como é ser uma mulher negra no mercado de trabalho.