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O GLOBO: 76% das mulheres brasileiras já foram vítimas de violência ou assédio no trabalho

Embora presentes em menor número no mercado de trabalho, mulheres são maioria das vítimas de violência e assédio nas empresas. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão, 76% das entrevistadas já sofreram algum tipo de violência, assédio ou constrangimento no ambiente profissional. Entre os homens, 15% afirmaram ter passado por situações similares.

Foram entrevistados mil mulheres e 500 homens a partir de 18 anos, em todas as regiões do país. O estudo, em parceria com o Instituto Locomotiva e apoio da Laudes Foundation, tem o objetivo de “fomentar o debate sobre as situações de violência e assédio vivenciadas pelas mulheres nos ambientes de trabalho”, segundo as pesquisadoras responsáveis.

Enquanto os homens relatam sofrer mais com situações de constrangimento e assédio moral, entre as mulheres, somam-se episódios frequentes de assédio sexual e discriminação de gênero: 36% delas relataram ser alvos de comentários constrangedores sobre seu aspecto físico, e 39% receberam convites para sair ou insinuações inadequadas, contra 9% e 8% dos homens, respectivamente.

— O ambiente de trabalho reproduz o que as mulheres vivenciam na sociedade de forma geral: uma série de situações de violência e preconceito que acontecem pelo simples fato de elas serem mulheres. — explica a diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva, Maíra Saruê. — As situações de assédio e constrangimento são tão presentes no cotidiano das mulheres que, muitas vezes, acabam sendo naturalizadas, ou seja, tratadas como questões menores, que fazem parte do dia a dia.

A crença geral de que os agressores não serão punidos desencoraja a maior parte das vítimas a seguir em frente com denúncias ou reclamações formais. Além das reações mais imediatas, como sentimentos de tristeza, raiva e humilhação (relatados por mais de 40% das mulheres), desamparo (21%) e culpa (19%), a longo prazo cerca de um quarto das vítimas desenvolve uma espécie de desconfiança em relação ao ambiente de trabalho e seus colegas. Parte afirma também perceber uma queda no rendimento e confiança no exercício do cargo, e a necessidade de buscar auxílio psicológico ou psiquiátrico.

Apesar disso, muitas contam temer perderem seus empregos e não conseguirem retornar ao mercado de trabalho caso denunciem. Esse medo tem explicação: 71% dos entrevistados admitem perceber que homens e mulheres têm diferentes oportunidades no mercado de trabalho. Seja em menores salários para o exercício das mesmas funções (71%), menores chances de conquistar uma promoção (61%), ou mesmo mais dificuldades em encontrar um bom emprego (60%).

— As lideranças de empresas e demais organizações precisam reconhecer que o assédio é uma questão que existe e persiste em nossa sociedade e, portanto, pode estar presente em seus locais de trabalho. Precisam assumir a responsabilidade em garantir um ambiente livre de assédio e violência e para isso, devem incluir em suas agendas internas oficinas e debates sobre a violência no trabalho, devem realizar campanhas de conscientização, e desenvolver políticas internas de combate a esse crime. E, precisam se posicionar abertamente ressaltando que suas empresas e organizações não aceitam assédio e violência. — enfatiza a Gerente do Programa Direitos e Trabalho da Laudes Foundation, Luciana Campello.

Dados da pesquisa mostram ainda que mulheres negras também são vítimas de discriminação racial no ambiente de trabalho (15%), e mais de 60% dos entrevistados acredita que elas também possuem menos oportunidades que mulheres brancas na busca por emprego.

— No caso específico do Brasil, é importante ressaltar ainda o marcador racial: aqui as mulheres negras estão em situação de maior vulnerabilidade, dado esse escancarado pela pandemia e historicamente apontado em diversos estudos sobre desigualdades no país. Por isso, ao tratar o assunto, é preciso considerar as interseccionalidades de gênero, raça, classe, idade, orientação sexual, entre outras — destaca Campello.

Efeitos da pandemia

A chegada da pandemia de Covid-19 ampliou as desigualdades já existentes no mercado de trabalho brasileiro. Em relação às desigualdades de gênero, a pandemia e o período de quarentena subsequente aumentaram a carga de trabalho não-remunerado sobre as mulheres, seja na realização de tarefas domésticas ou cuidados de terceiros, como filhos, familiares mais velhos ou pessoas doentes.

Mais de 70% das mulheres entrevistadas relataram um aumento no acúmulo de tarefas, e quase metade afirmou ter dificuldade em conciliar as tarefas de casa e de cuidados com os filhos com o trabalho remunerado. Apenas 35% dos homens sentem o mesmo.

Esses números confirmam percepções já observadas que indicam que mulheres tendem a acumular mais tarefas domésticas do que os homens, e que mulheres com filhos encontram mais obstáculos no desenvolvimento de suas carreiras ou busca por emprego.

A instabilidade financeira trazida pela pandemia também as afetou mais: a redução de jornada de trabalho e salário atingiu 56% das mulheres (contra 51% dos homens), e 34% perderam o emprego (entre os homens foram 30%).

— As relações de trabalho, de poder e de gênero permanecem muito desafiadoras para as mulheres. Para mudar esses números é necessário que haja equidade de gênero no mundo trabalho. E isso significa mais mulheres tendo mais oportunidades de acesso e ocupando espaços, inclusive de liderança — conclui Campello.

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