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FOLHA DE S. PAULO: Pandemia leva à redução de consultas no pré-natal e de apoio para cuidar de bebês

Redução de consultas e exames no pré-natal, menos participação dos parceiros no acompanhamento da gravidez, queda de rendimentos e falta de apoio para cuidar do bebê.

Esses são alguns dos transtornos que a pandemia de coronavírus tem trazido às gestantes e puérperas brasileiras, segundo pesquisa online inédita. Para 84% delas, a experiência da gravidez ficou mais difícil devido à crise sanitária.

A pesquisa foi feita com 2.753 mulheres (1.713 grávidas e 1.040 puérperas), de todas as classes sociais, feita entre 23 de julho e 8 de agosto em todas as regiões do país. A margem de erro é de 2,9 pontos percentuais.

O estudo foi feito pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da ONU Mulheres e da plataforma BabyCenter, em parceria com o Unicef, Organização Pan-Americana da Saúde e Fundo de População das Nações Unidas.

Segundo o levantamento, uma em cada três gestantes diminuiu a ida a consultas de pré-natal e a realização de exames presenciais durante a pandemia.

A maioria (52%) relata muita preocupação em sair de casa para monitorar a gestação.

“O medo aliado à falta de informação sobre o coronavírus podem estar prejudicando a saúde e colocando em risco inúmeras mulheres e bebês em formação, um impacto negativo que ainda não é possível medir, mas que certamente trará consequências futuras”, diz Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, organização que atua pelos direitos das mulheres.

Embora a oferta geral de consultas virtuais tenha crescido nesse período no setor da saúde, 59% das grávidas ainda preferem o acompanhamento presencial da gravidez. Das que se consultaram a distância, 58% se sentiram satisfeitas, contra 85% das que fizeram consultas presenciais.

Ainda há muita desinformação. Por exemplo, só 32% das entrevistadas se sentem bem informadas sobre medidas que a maternidade está tomando para evitar o contágio.

Mais da metade das entrevistadas diz não saber se pode haver transmissão vertical (da mãe para a criança) em caso de infecção na gravidez. Ainda estão sendo realizados estudos para comprovar essa relação.

Apesar de a quase totalidade das mulheres (98%) ter relatado vontade de amamentar (ou dizer que já estava amamentando), 49% dizem que não o fariam se estivessem com o vírus.

O índice sobe para 67% nas classes D e E. Estudos recente mostram que o vírus não é transmitido pelo leite materno.

“A ciência ainda não tem respostas para várias questões, mas, para as quais já existem, é preciso que sejam passadas de forma clara. Isso diminui muito a angústia, o medo”, diz ​Maíra Saruê, diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva.

Mais da metade (53%) das gestantes também não sabia se poderia ter acompanhante no hospital no pós-parto, o que é garantido por lei desde 2005. Mas em muitas maternidades públicas isso não tem ocorrido.

Em estados como Amazonas, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Tocantins e no Distrito Federal, as Defensorias Públicas têm atuado para assegurar esse direito das mulheres.

Para Jacira Melo, é urgente que sejam desenvolvidos protocolos específicos de informações para essas mulheres pelas áreas de gestão em saúde e maternidades.

“Embora precisem ter os mesmo cuidados e precauções que as outras pessoas para evitar a Covid-19, considerando as mudanças no corpo e no sistema imunológico, as grávidas podem ser afetadas de forma mais severa.”

Estudo publicado em julho na revista médica International Journal of Gynecology and Obstetrics colocou o Brasil como recordista no mundo em mortes maternas relacionadas à Covid-19. À época, o país tinha 124 óbitos —um mês depois, já somava mais de 200, o que representava 77% das mortes maternas no mundo.

Segundo dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, as grávidas e puérperas têm mais chances de desenvolver complicações da Covid-19, com 1,5 mais internações em UTIs e 1,7 maior necessidade de ventilação mecânica e óbito, em relação a outras mulheres.

A necessidade de distanciamento social trouxe outras consequências para o período de gestação: 39% das entrevistadas dizem que houve diminuição da participação do cônjuge nas consultas de pré-natal e puerpério e 87% afirmam não ter apoio para cuidar do bebê.

Por exemplo, uma em cada três mulheres não sabe onde vai deixar o bebê após a licença-maternidade.

É o caso da bancária Marta de Souza, 35, que busca uma babá para ficar com o filho Pedro, de seis meses.

Com os pais morando no interior e o marido, também bancário, já em trabalho presencial, ela havia planejado, antes da pandemia, deixar o bebê em um berçário conveniado com o banco, mas o local continua fechado devido à pandemia.

“Vai ser um enorme aperto financeiro [contratar uma babá], mas não tem jeito. Não posso abrir mão do meu emprego nesse momento”, diz ela.

Entre as 16% das mulheres que, assim como Marta, pretendiam deixar seus bebês nas creches após a licença maternidade, 44% ainda não sabem quem tomará conta da criança.

Para Maíra Saruê, a pesquisa revela que, nos momentos mais delicados da maternidade, na gravidez e no pós parto, as mulheres estão sentindo inseguras e abandonadas.

“Elas perdem a rede de apoio quando mais precisam. O companheiro sai para trabalhar, ela tem medo de receber visitas. Mais do que nunca precisam de apoio psicológico, de acolhimento.”

O impacto financeiro já é sentido pelas maioria das entrevistadas: 60% tiveram redução de rendimentos, segundo o estudo.

“Muitas mulheres já abandonavam os empregos antes da pandemia por não ter com quem deixar o bebê.

Não encontravam vagas em creches públicas, não tinham condições de pagar uma babá. Agora a situação está ainda mais delicada”, afirma Saruê.

Clique aqui para ler a matéria no site.

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