Leia o artigo completo abaixo:
“Após acusações de ex de Bolsonaro, vices mulheres reforçam #Elenão
Candidatas do PCdoB, PDT e PSOL participarão de atos neste sábado. Já Ana Amélia, do PSDB, terá agenda de campanha e indicou que pode votar no ex-capitão
Por Luis Lima em 28/09/2018 em Época
A divulgação do conteúdo do processo de separação entre Jair Bolsonaro e a ex-mulher Ana Cristina Valle aflorou o sentimento de rejeição do ex-capitão de candidatas mulheres à vice-Presidência. Reunidas em evento promovido pelo jornal El País , o Instituto Locomotiva e a ONU Mulheres, na manhã desta sexta-feira (28), em São Paulo, três delas confirmaram presença em atos contra Bolsonaro neste sábado (29).
Manuela d’Ávila (PCdoB), vice de Fernando Haddad (PT), e Sônia Guajajara (PSOL), vice de Guilherme Boulos (PSOL), irão à manifestação em São Paulo, enquanto Kátia Abreu (PDT), vice de Ciro Gomes (PDT), estará em ato em Goiânia (GO). Já Ana Amélia (PP), vice de Geraldo Alckmin (PSDB), disse que participará de agenda de campanha com o tucano em Porto Alegre, no período da tarde, e que por essa razão não participará do #Elenão.
No processo de separação aberto em 2008, de mais de 500 páginas, a ex-mulher Ana Cristina Valle acusa o candidato do PSL de ter ocultado milhões em patrimônio, furtar joias e valores de um cofre por ela mantido no Banco do Brasil e agir com “desmedida agressividade” no relacionamento. O documento foi obtido pela revista Veja e publicado em reportagem nesta quinta-feira. “Infelizmente não fiquei surpresa”, disse Kátia Abreu sobre o conteúdo das revelações.
“O que vem na boca daquele homem sai do coração e da cabeça dele. Tudo que ele fala, de ameaça de morte, a empurrão e pancadas, não tenho dúvidas de que ele é capaz. Não digo que fez, mas que é capaz, ele é”, afirmou. A candidata do PDT ainda definiu o “coiso” como “matéria-prima pura para a fábrica de ódio” e que “quem planta arroz, não colhe milho”.
Na mesma linha, a candidata a vice do PSOL afirmou que, mais do que nunca, é preciso fortalecer o #Elenão. “Essa mulher não mentiu. Não foi uma acusação falsa. O processo comprova que existiu”, disse Guajajara.
A candidata ainda falou que o fato de a ex-mulher recuar hoje nas acusações feitas no passado é “mais uma expressão do machismo”. “Por medo, ou represálias, ela pode ter recuado. Assim como aconteceu com a própria Marília Mendonça, cantora sertaneja, que se manifestou a favor e depois recuou por medo”, exemplificou. Para Kátia, o recuo na postura da ex-mulher, transcende o machismo. “Ela ficou um pouco mais velha, hoje convive melhor com ele, pois não vive com ele, e é candidata a deputada federal com o nome dele. Há outros interesses, mas é direito dela dizer o que quer”, completou Kátia.
Com a filha Laura no colo, Manuela d’Ávila contou que não poderia comentar a reportagem, por ainda não a ter lido, mas, em sua exposição reforçou, por diversas vezes, as hashtags #Elenão e #Elenunca. Na perspectiva da comunista, Bolsonaro é um representante do “machismo estrutural” que fundamenta a sociedade brasileira. E que a política “serve para construir saídas para a crise, e não agravá-la através do ódio”. Queridinha do público, formado em grande parte por estudantes da escola de negócios Ibmec, Manuela foi a mais aplaudida de todas as participantes e não raro um deles esticava o celular para fazer um registro fotográfico para o Instagram.
Já a menos ovaciada das quatro candidatas a vice, Ana Amélia disse que as acusações da ex-mulher de Bolsonaro revelam a “violência contra a mulher”, uma questão “fundamental que deve ser mitigada o mais rápido possível”. “Essa é a maior doença que temos no Brasil”. Antes de o evento começar, no entanto, Ana Amélia indicou que poderia votar no ex-capitão da reserva. Questionada sobre como se posicionaria em um eventual segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, os mais bem colocados nas pesquisas mais recentes de intenção de voto, a gaúcha foi taxativa: “No PT, não há chances”.
Na sequência, questionada por ÉPOCA se estava fazendo um aceno de voto em Bolsonaro, principal alvo da campanha de Alckmin, Ana Amélia recuou. “Não subentenda nada. O voto é secreto.” Sobre a resistência da plateia a suas manifestações, incluindo sobre o aborto (em que defende a atual legislação como está posta), ela disse que o clima foi devido ao “perfil ideológico de esquerda” dos presentes. “Minhas posições são de centro, da racionalidade. Sou assim, não posso negar minha natureza para atender ao desejo da plateia”, defendeu-se.
O encontro também serviu para as vices fazerem campanha para seus cabeças de chapa e cutucar adversários. No fim do evento, Kátia Abreu lembrou a derrota recente de Haddad na reeleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2016, e disse que o petista não pode “fazer graduação antes de terminar o ensino médio”. Já Manuela ressaltou algumas virtudes de Haddad, como a capacidade de diálogo e a serenidade. “Não vamos resolver nada no grito, falando palavrão”, afirmou. O temperamento intempestivo é uma das principais críticas feitas ao pedetista Ciro Gomes.
Guajajara lembrou a proposta de Boulos de criar uma “lista suja” para empresas que desrespeitem a igualdade de gênero no mercado de trabalho, e citou a importância de se discutir as especificidades da vida de mulheres transgêneros e travestis. Por fim, Ana Amélia lembrou o compromisso firmado por Alckmin no Projeto 50-50, da ONU Mulheres, que traz diretrizes para a igualdade de oportunidades e direitos entre homens e mulheres. Em comum, todas defenderam investimentos em políticas públicas a favor das mulheres, sobretudo as negras e de menor renda. As mulheres compõem a maior parte do eleitorado (52,5%) e são também as mais indecisas atualmente.
A presença feminina nas chapas majoritárias é estratégica. Há 107 milhões de mulheres no país, das quais 77 milhões poderão votar (52% do eleitorado brasileiro, a maioria). Números inéditos divulgados no encontro com as vices, elaborado pelo Instituto Locomotiva, mostram que 94% das mulheres afirmam que não se sentem representadas pelos políticos em exercício.
De acordo com a última pesquisa Ibope, 23% do eleitorado feminino está indeciso (8% disseram não saber, e 15% afirmaram que marcarão branco ou anularão), enquanto apenas 13% dos homens não sabem (4%) ou apontam nulo ou branco como opção (9%).