Se os profissionais negros (pardos e pretos) fossem remunerados como seus pares de outras raças no Brasil, quase R$ 1 trilhão de renda seria adicionado ao mercado de trabalho nacional. É o que aponta uma pesquisa encomendada pelo Grupo Carrefour ao Instituto Locomotiva, divulgada na última quarta-feira (28).
E isso ocorre porque, segundo dados do IBGE utilizados no levantamento, a renda média dos trabalhadores negros —que são mais da metade da população (56%) — é de R$ 1.865, enquanto o restante da força de trabalho nacional recebe R$ 3.509. O que explica este hiato tão grande?
Fatores históricos e preconceito ainda hoje
Para Liliane Rocha, CEO e fundadora da consultoria de diversidade Gestão Káiros, a diferença entre os salários e os cargos de negros e brancos dentro das empresas se dá por fatores históricos, bem como por preconceitos que a sociedade, mesmo no século 21, ainda cultiva.
“Temos uma história muito recente de escravidão, e a Lei Áurea, que falava sobre a liberdade do povo preto, não considerava onde essas pessoas iriam trabalhar”, diz.
Problema estrutural
Existe, é claro, também uma questão estrutural. Apenas 11% da população negra concluiu o ensino superior, quase o mesmo contingente que não frequentou a escola –são 8%, contra 4% dos não negros.
Dos que foram à escola, 91% estudaram em colégio público e 89% nunca fizeram cursos de idiomas, enquanto 74% nunca receberam nenhuma certificação profissional. Num mundo em que os currículos ditam o sucesso, essa parcela da população já começa a corrida em situação de desvantagem.
“Muitos dos parâmetros que costumam ser utilizados para contratar e promover dentro de empresas têm a ver com a renda do trabalhador, como mostra a nossa pesquisa. A escola em que estudou, habilidade com idiomas”, diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Para Rocha, programas que não pedem inglês para contratar os funcionários e que focam em negros não são “nivelar a régua por baixo”, como argumentam algumas empresas. “Devemos pensar que é preciso mudar a régua, colocando-a na horizontal. Focando em públicos mais vulneráveis, você está mudando o jogo e colocando a régua à luz do nosso século”, afirma.
Como resultado dessa disparidade, 29% da população negra está inserida nas classes D e E, 52% na classe C, e apenas 19% na classe A. Se compararmos com a outra parcela da população, 13% se encontram nas classes D e E, 45% na C, e outros 42% estão entre os mais ricos.
“Hoje, as escolas de negócios já começam a passar uma outra visão. O trabalhador que consegue ser criativo, resolver problemas em momentos de crise e lidar com o diferente vai ter vantagem”, afirma Meirelles.
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